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sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Mestre Didi, o artista sacerdote

Como escultor, escritor, ensaísta e curador, Deoscoredes M. dos Santos, ou Mestre Didi, de 83 anos, é um representante da cultura afro-brasileira. Como sumo sacerdote do culto aos ancestrais Egungun, Didi é o interlocutor entre os vivos e os mortos. Se, por um lado, sua arte é um feixe de luz sobre mitos e tradições ancestrais, sua palavra permanece sob um invólucro de santidade. “Ele fez um juramento que lhe privou de falar em público, fora do recinto religioso. O seu dizer não pode ser deturpado”, explica sua esposa, a antropóloga Juana Elbein dos Santos, designada sua porta-voz.

 A sabedoria do baiano Mestre Didi é transmitida efetivamente via uma extensa produção de esculturas – que lhe rendeu reconhecimento internacional como um artista de vanguarda. Suas obras fazem parte do acervo do Museu Picasso, em Paris, do MAM de Salvador e do Rio de Janeiro, entre vários outros museus estrangeiros. Atualmente, seu trabalho pode ser visto na Mostra do Redescobrimento e em uma exposição individual na Galeria São Paulo. Suas formas confeccionadas com contas, búzios, renda de couro e folhas de palmeira são inspiradas em mitos,lendas e objetos de culto aos orixás. Sua iniciação – à arte e à religião – se deu ainda menino, aos oito anos.

 Começou fazendo entalhes em madeira, depois vieram os “exus” esculpidos em cimento e barro. Aos 29 anos publicou o primeiro livro, Tal Qual se Fala com prefácio de Jorge Amado e ilustrações de Carybé. Outros 20 livros se seguiram, entre histórias de terreiros e contos da tradição negra da Bahia. Mas Mestre Didi sempre julgou a palavra escrita insuficiente na transmissão de conhecimentos. “No começo dos anos 80 tivemos uma comunidade infantil onde Didi escrevia e encenava peças de teatro, ensinava canto, dança, maquiagem. Não existe dicotomia entre as artes”, diz Juana. “Todos os contos afro-brasileiros são cânticos. Foram feitos para serem ouvidos, cantados e dançados”, completa ela. É por isto que Mestre Didi também é conhecido como um artista integral, “um renascentista da cultura nagô”.


By Paula Alzugaray (UOL)

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