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quarta-feira, 25 de maio de 2011

O tempo acaba o ano, o mês e a hora.

O tempo acaba o ano, o mês e a hora,
A força, a arte, a manha, a fortaleza;
O tempo acaba a fama e a riqueza,
O tempo o mesmo tempo de si chora;
O tempo busca e acaba o onde mora
Qualquer ingratidão, qualquer dureza;
Mas não pode acabar minha tristeza,
Enquanto não quiserdes vós, Senhora.
O tempo o claro dia torna escuro
E o mais ledo prazer em choro triste;
O tempo, a tempestade em grão bonança.
Mas de abrandar o tempo estou seguro
O peito de diamante, onde consiste
A pena e o prazer desta esperança.
 O Surrealista: Salvador Dalí.

Cocó Chanel e Dalí.
 
Poema de Luís de Camões e imagens de Salvador Dalí.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Amor é fogo que arde sem se ver.

Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;
É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

                           Luís de Camões

Amor, que o gesto humano na alma escreve.

Amor, que o gesto humano na alma escreve,
Vivas faíscas me mostrou um dia,
Donde um puro cristal se derretia
Por entre vivas rosas e alva neve.

A vista, que em si mesma não se atreve,
Por se certificar do que ali via,
Foi convertida em fonte, que fazia
A dor ao sofrimento doce e leve.

Jura Amor que brandura de vontade
Causa o primeiro efeito; o pensamento
Endoudece, se cuida que é verdade.

Olhai como Amor gera, num momento
De lágrimas de honesta piedade,
Lágrimas de imortal contentamento.

                    Luís de Camões

FETAM/RN QUESTIONA POSIÇÃO DO MEC SOBRE SALÁRIO DE PROFESSORES.

Gilberto Diógenes é presidente estadual da FETAM/RN

A direção da Federação dos Trabalhadores em Administração Pública Municipal do Rio Grande do Norte (FETAM-RN) está repudiando o posicionamento do Ministério da Educação (MEC) em relação ao reajuste do Piso Salarial Nacional Profissional do Magistério.

O ministério publicou em seu portal reportagem destacando que o percentual de reajuste do Piso é de 15,85%, bem abaixo dos 21,71%, divulgado pelo Governo Federal através de Portaria Interministerial publicada no Diário Oficial da União dia 3 de janeiro de 2011.


Pelo entendimento do MEC, o Piso para um professor de Nível Médio com 40 horas semanais seria R$ 1.187,00. A Portaria Interministerial definiu o Piso em R$ 1.597,87.

Para o presidente da FETAM-RN, Gilberto Diógenes, o MEC comete pelo menos 3 equívocos com esse posicionamento. "O primeiro deles se refere à forma de reajuste do Piso que para o ministério é a variação do Fundeb, enquanto que a Lei estabelece, em seu parágrafo único, que atualização é calculada utilizando-se o mesmo percentual de crescimento do valor anual mínimo por aluno referente aos anos iniciais do ensino fundamental urbano", destaca o presidente da FETAM-RN.

Ainda segundo ele, o segundo equívoco diz respeito ao fato de o MEC aprovar resolução da Comissão Intergovernamental para Financiamento da Educação de Qualidade, integrada pelo Conselho Nacional dos Secretários de Educação (Consed) e pela União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), que flexibiliza para os Estados e municípios o cumprimento do Piso. "O que precisamos é de pressão para que prefeitos e governadores cumpram a Lei", lembra Gilberto Diógenes.

O terceiro equívoco se relaciona ao valor. "O valor do Piso é de R$ 1.597,87. Com essa atitude, o MEC cria confusão na cabeça das pessoas e abre brechas para que prefeitos e governadores se recusem cada vez a pagar o piso conforme está previsto na Lei", finaliza Gilberto Diógenes.

POLICROMIA


POLI + CROMIA = MUITAS CORES 



Em Artes Gráficas, Plásticas ou Artes Visuais, a policromia é obtida através da combinação das três cores primárias (amarelo; vermelho e azul) mais o preto para realçar os contrastes. As ilustrações aparecem com cores bonitas. Tonalidades e matizes dão uma agradável sensação a quem olha. Aqui em Mossoró tem uma artista plástica notável que desenvolve painéis gigantes  com mosaicos policromados: NORA AIRES.



PINTURAS ABSTRATAS



Forma - não + figurativa

Os desenhos abstratos, não têm intenção definir ou criar formas conhecidas (deixam de reproduzir figuras ou objetos animados), procuram antes basear-se nas misturas de cores, nas formas geométricas e nas retas e curvas sem intensão de lembrar algo conhecido. Aqui postei algumas das minhas imagens preferidas e 3 bem conhecidas... Vocês sabem de quem são?



domingo, 8 de maio de 2011

UNIÃO ENTRE PESSOAS DO MESMO SEXO COMO ENTIDADE FAMILIAR.


            O Supremo Tribunal Federal (STF) aprovou nessa quinta-feira dia 07/04/2011, por unanimidade o reconhecimento da união estável para casais do mesmo sexo, o que coloca o Brasil num grupo de países que já tomaram decisões semelhantes. Foi protocolada pela Procuradoria-Geral da República, que busca o reconhecimento da união entre pessoas do mesmo sexo como entidade familiar. A ação também pede que os mesmos direitos e deveres dos companheiros nas uniões estáveis sejam estendidos aos companheiros nas uniões entre pessoas do mesmo sexo.

            Percebemos neste momento reconhecidamente, um avanço nos conceitos morais, jurídicos e familiar no que diz respeito aos DIREITOS SEXUAIS UNIVERSIAS, estabelecendo uma pequena ruptura nos muros por séculos engessados pela religiosidade ortodoxa, desamarrando os cânones da Igreja eclesiástica e descortinando a liberdade de amar... Inicia-se uma nova Era na Pós-modernidade identitário do humano social.  

            Outra ação, apresentada pelo governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, alega que o não reconhecimento da união homoafetiva contraria preceitos fundamentais como igualdade, liberdade e o princípio da dignidade da pessoa humana, todos da Constituição Federal.

            Com esse argumento, a ação pede que o STF aplique o regime jurídico das uniões estáveis, previsto no Código Civil, às uniões homoafetivas de funcionários públicos civis do Rio de Janeiro.

            O que está em discussão no Brasil é o reconhecimento da união estável entre homossexuais, e não o casamento, como já ocorreu em outros países.Em julho de 2010, a Argentina se tornou a primeira nação latino-americana a autorizar homossexuais a se casarem e adotarem filhos, desafiando a oposição católica para engrossar as fileiras dos poucos países, em sua maioria europeus, que já contam com leis semelhantes.

Apenas alguns poucos países autorizam o casamento de pessoas do mesmo sexo, são 17 países entre eles Holanda, a Espanha é o terceiro país, depois da Holanda e Bélgica, que autoriza o matrimonio entre homossexuais, nos Estados Unidos, os homossexuais podem se casar apenas em cinco Estados e na capital Washington, Grã-Bretanha, Croácia, Alemanha, França, Suécia, Portugal, Canadá, Nova Zelândia e Buenos Aires que desde maio de 2003, o governo da Cidade de Buenos Aires autorizou as uniões civis de casais homossexuais, convertendo-se na primeira cidade da América Latina que iguala os direitos entre casais gays e de lésbicas e casais heterossexuais. Em dezembro, uma lei aprovada pelos legisladores da Cidade do México concedeu aos homossexuais da cidade os mesmos direitos de casamento e adoção de filhos que os heterossexuais. O Uruguai autoriza casais homossexuais a adotar filhos, mas não a se casar.


Leia mais sobre esse assunto em
 
http://oglobo.globo.com/pais/mat/2011/05/05/stf-aprova-por-unanimidade-uniao-estavel-entre-gays-924394210.asp#ixzz1LlzfIwZd 

É sempre bom informar!


Campanha UNAIDS contra homofobia


Por ocasião do Dia Mundial pelos Direitos Sexuais e de Combate à Homofobia, celebrado em 17 de maio, o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (UNAIDS) lança campanha na América Latina e no Caribe para promover os direitos humanos de homossexuais, travestis, transexuais e lésbicas. Foram elaborados sete vídeos que serão enviados por correio eletrônico e também publicados em páginas da internet dos diferentes parceiros. No Brasil, a campanha será disponibilizada em vídeo e em áudio, para facilitar o acesso a redes de televisão e rádio, e será lançada no dia 14 de maio, durante o VI Seminário LGBT no Congresso Nacional, em Brasília, a partir das 11h00.

A campanha "Pelos Direitos Sexuais e pela Diversidade Sexual" busca chamar a atenção para os obstáculos que a "homo-lesbo-transfobia" – ou seja, a intolerância e o desprezo destinados àqueles e àquelas que apresentam uma orientação ou identidade diferente à heterossexual – criam para as respostas à epidemia de aids na região. Uma revisão dos dados disponíveis sobre o tema demonstrou que a prevalência do HIV varia entre 6 e 20% em homens gays nos países da América Latina e do Caribe, proporção muito maior se comparada, por exemplo, com os 0,6% de prevalência de HIV estimados para a população em geral (15 a 49 anos) no Brasil.
A homo-lesbo-transfobia contribui para o aumento das novas infecções pelo HIV e também para mortes por aids, uma vez que a discriminação dificulta o acesso à informação sobre prevenção e também afasta essas populações dos serviços de saúde, mesmo que testes e medicamentos estejam disponíveis gratuitamente. Estudos multi-cêntricos dirigidos às populações gays, lésbicas e trans vêm sendo conduzidos pelo Ministério da Saúde e seus resultados auxiliarão no planejamento de ações de prevenção e atenção ao HIV.
A Campanha "Pelos Direitos Sexuais e pela Diversidade Sexual" foi elaborada pelos Escritórios para América Latina do UNAIDS e do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), com o apoio de redes de organizações não-governamentais como a REDLACTRANS (que mobiliza as populações trans da Região), a ASICAL (Associação para a Saúde Integral e Cidadania da América) e a LACCASO (Conselho Latino-Americano e do Caribe de Organizações Não Governamentais com Serviço em HIV/AIDS).
Pedro Chequer, Coordenador do UNAIDS no Brasil, responsável pela adaptação da campanha, destacou que a “iniciativa busca dar visibilidade ao tema da discriminação e estigma como um fator acrescido de vulnerabilidade à infecção pelo HIV e estabelecer de modo mais permanente o debate social com vistas ao seu definitivo equacionamento”. Em toda a região da América Latina, o 17 de maio será marcado também por marchas, festivais, oficinas de sensibilização e diversas campanhas de comunicação em toda a América Latina.
Homo-Lesbo-Transfobia: se refere à aversão, ódio, medo, preconceito ou discriminação contra homens ou mulheres homossexuais e também pessoas trans e bissexuais. Em 17 de maio de 1990, a Organização Mundial da Saúde (OMS) retirou a homossexualidade da lista de doenças mentais, razão pela qual neste dia se realiza o Dia Mundial pelos Direitos Sexuais e de Combate à Homofobia. Foi nesta ocasião que a OMS reconheceu que a orientação sexual não é uma “opção” e que também não se deve tentar modificá-la.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

O QUE É BELEZA?

Com a palavra a sra. Dr. Ana Mae Barbosa:

"A idéia de Arte como experiência afastou outra concepção cristalizada pelo Renascimento: a de que Arte é Beleza.
Artistas modernistas que operaram radicais transformações na Arte entre as duas grandes guerras não só se recusavam a conceber Arte como Beleza, mas principalmente procuravam evitar a Beleza na Arte.
Como diz Arthur Danto, procuraram suprimir a Beleza num gesto de protesto contra a sociedade deflagradora da guerra. Os dadaístas foram os principais responsáveis pela morte da Beleza na Arte.
Danto nos lembra uma frase de um poema deRimbaud (A season in Hell):
”Um dia eu sentei Beleza nos meus joelhos e achei-a amarga, e abusei dela.”
Diz que esta frase expressa exatamente a atitude dos dadaístas tardios. Eles consideraram a Beleza amarga porque estavam amargos com a sociedade que venerava a Beleza.
Na guerra, seus governos abusaram da Justiça; em simbólica retribuição, eles abusaram da Beleza. As experiências dos artistas durante a guerra foram de ordem traumática, levando-os a politizarem a Beleza.
Max Ernst, que serviu na artilharia, depois da guerra disse:
Para nós, Dada foi acima de tudo uma reação moral. Nossa ira buscava total subversão. A horrível e fútil guerra havia nos roubado cinco anos de nossa existência. Nós experimentamos o colapso no ridículo e a vergonha de tudo que era apresentado a nós como justo, verdadeiro e bonito.”
Em vez de apresentar uma visão enobrecedora, Arte transformou-se em um meio de mostrar a feiúra moral da sociedade que os havia posto a atravessar o inferno.
George Grosz, que chegou a tentar o suicídio para não voltar para o front, disse:
”Eu desenhava e pintava dominado pelo espírito da contradição, tentando no meu trabalho convencer o mundo de que ele era feio, doente, mentiroso.”
É possível uma obra ser artisticamente boa, mas feia.
Minha filha, quando tinha 5 anos, passou por um daqueles prédios rococós e disse:
– Olha, mãe, um prédio feio, bonito.
Para ela era feio, pois não correspondia à estética de nosso tempo, mas era bonito pois representava o passado. Era significante".

terça-feira, 3 de maio de 2011

O QUE É ARTE?

Responde a Professora Dr. Ana Mae Barbosa.


Quando me perguntam o que é Arte, fico tentada a responder com o silêncio. É possível definir Arte?Arthur Danto, filósofo americano, diz que Arte se caracteriza pela impossibilidade de definição. É como tentar definir o amarelo. Você oferece metáforas, mas não definições do amarelo. O caráter de linguagem “presentacional” da Arte torna difícil defini-la em outra linguagem como a discursiva ou a científica. Mas os milhões de livros sobre Arte, de um modo ou de outro, buscam defini-la.


Cada definição depende do ideário do teórico que a formula e da época que testemunha a formulação. Arte como emoção satisfez os românticos, Arte como intuição deu a Benedetto Croce um lugar na história das definições de Arte. Os modernistas ratificaram a definição de Arte como forma de representação, o que no alto Modernismo radicalizou-se na vaga definição de Arte como linguagem autônoma (Clement Greenberg). Já para os pós-modernistas, Arte é cognição.
Teríamos que começar pelo óbvio para definir Arte:
1. Arte é artefato, não é natureza.
2. Arte é linguagem “presentacional” que pode intertextualizar com outras linguagens, mas nunca se reproduzir em uma outra sem perdas e danos. No diálogo das linguagens, são produzidas equivalências configuracionais (aí vai outra teoria, a da Gestalt), mas nunca redução de uma linguagem a outra.
3. Arte é emoção, porém representada de forma comunicável, portanto, passando pelo crivo do inteligível.
4. Arte é conhecimento, conhecimento para cuja configuração todas as funções mentais participam: intuição, inteligência, emoção, um conhecimento que é a consciência da experiência, experiência de ver e/ou fazer arte (outro teórico,John Dewey).
Enfim, se você me pergunta o que é Arte hoje, eu diria que é tudo isso e cinicamente acrescento que é um divertimento que tem o poder de levar a pensar e algumas vezes transformar. Transformar a própria Arte, quem a faz, quem a vê e a sociedade. Louca essa história de Arte como divertimento, não é? Mas o transcendental da Arte já morreu, pelo menos adormeceu.

Arte na escola não custa caro, afirma especialista.

Por Carlos Gustavo Yoda e Eduardo Carvalho - Agência Carta Maior.



             "Ana Mae Barbosa é a principal referência no Brasil para o ensino da arte nas escolas. Professora aposentada da USP, acredita que a arte estimula a construção e a cognição das crianças e adolescentes, judando a desenvolver outras áreas de conhecimento. Em entrevista exclusiva à Carta Maior, Ana Mae Barbosa falou sobre a importância do ensino da arte nas escolas e sobre as dificuldades de implantar essas idéias".

         Filha de uma família tradicional, Ana nasceu no Rio de Janeiro, mas foi criada com os avós em Pernambuco. Sonhava em estudar Medicina, mas isso era um absurdo para toda a família. “Como uma mocinha vai ficar com um monte de homens vendo corpos nus?”, questionava a avó.

       Acabou caindo na “vala comum” da época e foi estudar Direito. Para pagar os estudos, teve que partir para o ensino. “As únicas profissões aceitáveis eram ser professora ou casar”, disse. Odiava aquilo. Odiava o ambiente repressor das salas de aula. Por ironia, foi em um cursinho para concurso de professora primária que conheceu Paulo Freire. Na primeira aula, o tema da redação era “por que eu quero ser professora?”. Ana Mae escreveu o que sentia, que odiava educação. No entanto, apenas quatro horas de conversa com o mestre foram suficientes para destruir todos os seus preconceitos. “Só então compreendi que educação não era aquilo que eu tive. Eu passei por um processo de abafamento e moldagem. Mas ele me ensinou que a Educação poderia ser libertadora”.

        E Ana Mae transferiu aquele sentimento o para a arte-educação, na Escolinha de Artes de Recife. Mudou-se para São Paulo para fugir da ditadura militar. Foi para os Estados Unidos, fazer mestrado e voltou como a primeira doutora brasileira em arte-educação e comandou as pesquisas sobre o tema na Escola de Comunicações e Artes da USP.

       Criadora da teoria da “abordagem triangular”, a arte-educadora entende a necessidade da existência de educadores atualizados, artistas e acesso aos trabalhos contemporâneos para que os estudantes consigam atingir o máximo do desenvolvimento do conhecimento. Em entrevista exclusiva à Carta Maior, Ana Mae Barbosa falou sobre a importância do ensino da arte nas escolas e sobre as dificuldades de implantar essas idéias.


CARTA MAIOR – Existe um debate hoje sobre a obrigatoriedade da existência de artistas práticos especialistas nas escolas. Esse seria um grande passo para a Arte-Educação?


ANA MAE BARBOSA- O artista não necessariamente é um bom professor. Existe um estudo que defende ter ao lado de um artista um arte-educador trabalhando junto. Um profissional que conheça as fases de desenvolvimento da criança. Um arte-educador tem o preparo, conhece as fases de desenvolvimento e construção plástica da criança. É necessário que entenda as fases de recepção da obra de arte; entenda como articula o desenvolvimento social e cognitivo da criança. Por isso, eu defendo a presença dos dois profissionais ao lado das crianças. Os melhores projetos de arte-educação do mundo atuam dessa forma. Teve um projeto fantástico na Bahia, chamado Quietude da Terra. Uma curadora canadense veio ao Brasil e convidou vários artistas internacionais importantes. Eles trabalharam juntos com arte-educadores juntamente com crianças de rua de Salvador e atingiram um resultado excelente.

CM - Mas isso é factível para a realidade estrutural da educação?
AMB - Eu estou cansada dessa conversa de que custa caro. Custa caro colocar os menores na Febem. Um país que gasta mais dinheiro com prisão do que com educação tem que mudar. É factível. Acontece que, em países como a Inglaterra, Portugal e Canadá eles estão atentos a isso e defendem a Arte na Educação. Eles fazem o trabalho em conjunto do professor com o artista. É preciso aliar esse trabalho. O contato do artista é importante para provocar e trazer os debates contemporâneos para as salas de aula, abrindo os olhos para diferentes codificações.

           Eu organizei recentemente um livro (“Arte-Educação Contemporânea” – Editora Cortês) que tem um artigo que trata de um colégio no Canadá com artistas e arte-educadores. Já temos os arte-educadores nas escolas, agora é preciso criar projetos para que coloquemos artistas, das diversas áreas, nas instituições de ensino. O grande problema é que no Canadá eles têm um grande respeito à multiculturalidade. Eles fazem questão de mostrar os diversos códigos, como o dos africanos, o indígena. Isso é magnífico. No livro, eles colocaram também umas fotos que mostram a variedade de expressões.

CM - Mas a falta de investimentos no Brasil reflete-se apenas na ausência dos artistas dentro das escolas ou estende-se também à questão da capacitação?


AMB - Não é capacitação, o problema é a atualização. Qualquer professor precisa estar atualizado. Eu não concebo um professor que não procure, em um ano inteiro, um curso, uma conferência, ao menos para trocar idéias. A atualização deve, então, ser permanente e não algo esporádico como esta tal capacitação!

         Há uma coisa meio perversa nos que chamam isso de capacitação. O professor é capaz. Atualização significa que o professor é capaz, está formado, e se ele não se atualiza constantemente será apenas um repetidor de formas e apostilas que nenhuma capacitação vai resolver. Eu acho que o investimento primeiro deve ser destinado à atualização constante. Uma coisa perversa que a Secretaria de Educação do Estado (de São Paulo) fez foi achar que o que eles chamam de capacitação fosse feito apenas nas escolas. Eles pensam que os professores que saem para cursos tendem a voltar decepcionados para a escola, por não conseguirem depois programar aquilo que aprenderam. Então os professores ficariam desmotivados. Essa não é a minha experiência. Em todos os casos que conheço, os professores vão e voltam com um empenho tremendo.

          Fizemos uma pesquisa recente do Centro Cultural Banco do Brasil que ilustra o que estou dizendo. Em 2004, eles me chamaram e disseram que queriam fazer uma pesquisa para saber como o professor usa, em sala de aula, o material que eles preparavam para acompanharem as exposições, com slides, fotos e um livreto com os conceitos de arte-educação. Eles contrataram uma empresa para fazer a pesquisa. Rejane Coutinho (doutora em Artes pela ECA-USP) e eu para dialogar, desenhando a pesquisa e depois para avaliá-la. Foram quatro exposições em um ano: “África”; “Nuno Ramos, um artista homem, brasileiro e contemporâneo”; “Rosana Palazyan, uma artista mulher, brasileira e contemporânea”; e “Antoni Tàpies, da galeria de Paris”. Cada professor recebia um kit. Primeiro, queríamos fazer um CD, mas depois descobrimos que nem todos têm acesso a computador. Então, fizemos transparências.

         Desenhamos a pesquisa em quatro grupos. Os professores comprometiam-se a comparecer a um encontro mensal de relato e experiência, com uma professora de português que trabalha com essa questão de memória e relato. Eles mandavam um relato depois de cada aula e, a cada 15 dias, recebiam visitas de um agente de campo, só para observar. No grupo um, tinha ônibus, lanche e horário reservado para as exposições. O outro não tinha nada, eles que tinham que dar um jeito. O primeiro trabalhou muito melhor. O segundo começou a se sentir preterido. No primeiro, todos foram até o final. No segundo, três desistiram no meio do caminho. Para os outros grupos só mandávamos o material. Percebemos que apenas o material é insuficiente. Faltava o diálogo. Muitos iam ver a exposição antes, mas não tinha aquela discussão. Não só acho que o contato com a instituição de arte seja importante, como o contato com o artista. O museu é uma espécie de laboratório.

CM - E um trabalho como esse, supre a necessidade da presença do artista na escola?


AMB - Não. Para mim, o ideal é ter os três: o arte-educador atualizado, o artista e o trabalho com as instituições. “Estuda, vê, conversa”. É o que chamamos de teoria da abordagem triangular. O que percebemos foi que muitos professores utilizaram o material que preparamos para o currículo do ano inteiro. E foram excepcionais. Por exemplo, a reprodução da capa do livro “Artes Visuais – da exposição à sala de aula”, que traz o resultado da pesquisa, veio do CEU Butantã, onde há muitas crianças com problemas de comportamento. E a professora conseguiu um resultado magnífico.

        Tem uma outra professora, a Elza, que, se fosse para eu identificar uma heroína, eu a escolheria. Ela já tem sessenta anos, dá aula em três turnos na Cidade Tiradentes, um lugar onde não tem nenhum espaço cultural, cinema, nada. Há, sim, classes de cinqüenta crianças em uma escola paupérrima. A escola em que ela trabalhou na pesquisa tinha apenas cinco turmas. Ela conseguiu dinheiro para levar todos os alunos. Ela era uma professora correta, mas "careta", que deu um salto enorme em seu trabalho. Neste trabalho, escolhemos a quinta série, pois ela é a exemplar fase na qual a criança deixa o professor generalista e passa para o especialista. É quando ela terá que fazer a junção das diferentes disciplinas.

CM – Então, explique para nós e para o leitor: por que é importante ter isso tudo na escola?


AMB - Para trabalhar construção e cognição. Na construção da Arte utilizamos todos os processos mentais envolvidos na cognição. Existem pesquisas que apontam que a Arte desenvolve a capacidade cognitiva da criança e do adolescente de maneira que ele possa ser melhor aluno em outras disciplinas. A música desenvolve diversos processos cognitivos, comparando, organizando, selecionando. Em Arte, opera-se com todos os processos da atividade de conhecer. Não só com os níveis racionais, mas com os afetivos e emocionais. As outras áreas também não afastam isso, mas a Arte salienta ou dá mais espaço. Para desenvolver a criatividade em ciência, a criança tem que ter certo QI racional. Para desenvolver através da Arte, a necessidade de QI é muito menor. Significa que ele procura outros caminhos cognitivos. Eu acho que, em primeiro lugar, a função da Arte na Educação é essa, desenvolver as diferentes inteligências.

             Isso fica patente com o exemplo dos Estados Unidos, onde existe um teste equivalente ao Enem - aliás, o Enem é cópia do deles. Eles pesquisaram quais os currículos dos alunos que mais se destacaram no teste, nos anos 90. Todos eles haviam tido no mínimo dois cursos de artes. Lembre-se de que, lá, eles escolhem o currículo. Só aqui que currículo é igual à receita médica. Mas isso não era suficiente. Além disso, é preciso desenvolver o país culturalmente. Arte é uma fatia enorme da produção humana. E com uma vantagem imensa de rever cada época. Diferente do fato, o objeto arte permanece para ser revisto, relido ou reconcebido. Isso é essencial: operar no mundo com conhecimento.

CM - E quais são as políticas públicas que existem para garantir isso?


AMB - Não há políticas públicas. Uma das minhas grandes decepções com o atual Ministério da Educação é o silêncio absoluto sobre Arte-Educação, sobre a função da Arte. E, no ministério anterior, só se pensou em normatizar, parâmetros mínimos. O que é a mesma coisa. Não serve para nada, não funciona.

CM - Por que não funciona?


AMB - Se formos analisar o que aconteceu em outros países, percebe-se que eles voltaram para trás. Não deu certo na Espanha, e eles importaram um espanhol para desenhar o currículo que temos hoje. No lado que conhecemos e que chamamos de Ocidente, o melhor exemplo é o do Canadá. Eles se recusaram completamente a ter um currículo nacional. É puro desejo de controle das instituições. O interessante é que, quando surgiu essa reforma, eu me posicionei contra, fizemos todo um movimento. Aí eu fui até a Argentina e lá tinha um movimento imenso. Pois lá também estava acontecendo a mesma coisa. E o espanhol que elaborou o currículo nada mais fez do que oferecer desenho para colorir: ele tinha o contorno de tudo e chamava as universidades hegemônicas para colorir em cada país. Aqui eles escolheram a Universidade de São Paulo. No Chile, foi a Católica. Na Argentina, foi a de Buenos Aires. Mas lá tinha um grande problema. A Universidade de Buenos Aires não tinha cursos de Educação. Estava um movimento muito forte. Foi até bom. Eu gritava contra e eles aplaudiam. Criei alguns inimigos. Mas, no fim, aconteceu o que prevíamos, não deu certo. Depois sobrou um vácuo...
(Envolverde/Agência Carta Maior).