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quarta-feira, 4 de maio de 2011

O QUE É BELEZA?

Com a palavra a sra. Dr. Ana Mae Barbosa:

"A idéia de Arte como experiência afastou outra concepção cristalizada pelo Renascimento: a de que Arte é Beleza.
Artistas modernistas que operaram radicais transformações na Arte entre as duas grandes guerras não só se recusavam a conceber Arte como Beleza, mas principalmente procuravam evitar a Beleza na Arte.
Como diz Arthur Danto, procuraram suprimir a Beleza num gesto de protesto contra a sociedade deflagradora da guerra. Os dadaístas foram os principais responsáveis pela morte da Beleza na Arte.
Danto nos lembra uma frase de um poema deRimbaud (A season in Hell):
”Um dia eu sentei Beleza nos meus joelhos e achei-a amarga, e abusei dela.”
Diz que esta frase expressa exatamente a atitude dos dadaístas tardios. Eles consideraram a Beleza amarga porque estavam amargos com a sociedade que venerava a Beleza.
Na guerra, seus governos abusaram da Justiça; em simbólica retribuição, eles abusaram da Beleza. As experiências dos artistas durante a guerra foram de ordem traumática, levando-os a politizarem a Beleza.
Max Ernst, que serviu na artilharia, depois da guerra disse:
Para nós, Dada foi acima de tudo uma reação moral. Nossa ira buscava total subversão. A horrível e fútil guerra havia nos roubado cinco anos de nossa existência. Nós experimentamos o colapso no ridículo e a vergonha de tudo que era apresentado a nós como justo, verdadeiro e bonito.”
Em vez de apresentar uma visão enobrecedora, Arte transformou-se em um meio de mostrar a feiúra moral da sociedade que os havia posto a atravessar o inferno.
George Grosz, que chegou a tentar o suicídio para não voltar para o front, disse:
”Eu desenhava e pintava dominado pelo espírito da contradição, tentando no meu trabalho convencer o mundo de que ele era feio, doente, mentiroso.”
É possível uma obra ser artisticamente boa, mas feia.
Minha filha, quando tinha 5 anos, passou por um daqueles prédios rococós e disse:
– Olha, mãe, um prédio feio, bonito.
Para ela era feio, pois não correspondia à estética de nosso tempo, mas era bonito pois representava o passado. Era significante".

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